VICTOR HUGO GALDINO
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Que não ocorram sorrisos coletivos por
obrigação, pois o vulcão que entra em erupção no meu intimo não tem nome nem
pede licença ao chegar, entretanto é tão devastador quanto o Krakatoa, curioso
em sua essência e pleno em sua grandiosidade.
Meus hormônios teimosos explodem como
uma larva que molda uma montanha, que molda o meu corpo, o meu senso e minha
percepção. Minha gente tem medo de explosão, minha gente anda cabisbaixa, anda
calada. Meu vizinho já não canta e minha tia já não usa os mesmo vestidos
coloridos, tudo é cinza. Dentro de mim a liberdade se constitui e dança sobre
meus impulsos sexuais aflorados, meu corpo holista é inédito e parece ter vida
própria.
Ouço daqui gritos acorrentados, e eu
continuo a explodir por dentro. Vocês que criaram o medo, façam-me o favor de
descria-lo.
Neste momento minha avó olha tristonha, pela janela, o mundo se tornando preto e branco. Chorando ela observa de longe o
sepultamento do excelentíssimo Senhor Sorriso. O sorriso morreu e quase ninguém
percebeu, dizem que foi por conta de uma explosão, mas qual delas? Permitam-me
falar sobre ele: Sorriso era um cara bacana, aspecto legal, livre, intensivo,
não tinha moradia e tampouco residência fixa, vivia beirando e acampando entre
uma boca e outra, feito andorinha voando de árvore em árvore. Agora, tão cedo,
tão breve e o opaco seu corpo desce ladeira adentro em um caixão sem graça. Mas
para onde foram todas aquelas risadas?
As asas do meu sabiá estão curtas enquanto
as minhas tentam nascer, o meu pássaro azulão não cantarola e já não se ouve
ninguém cantando o Cartola:
“Ouça-me bem, amor
Preste atenção o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos, tão mesquinho
Vai reduzir as ilusões a pó...”
No trabalho ninguém canta, enquanto em mim existe uma imensidão
artística tentando ser construída, mas lá fora a arte se cala. Na rua é choque,
chibata, coice e grito. Tem choque pau de arara, coice e silencio.
Chora pobre cabocla, chora pobre menino, chora! Chora que suas lágrimas
banharão essa terra seca de homens secos e seus prantos poderão ser ouvidos como
música em todas as esquinas. O que devo
fazer com minha própria explosão para não ser explodido?
Por favor, não me venha falar em carnaval desta vez e tampouco sobre
futebol! O carnaval deste ano não tem samba, não tem preto sorrindo e nem
mulata dançando. Aqui há muito gringo curioso, e ontem até chegou de avião um
loiro alto chamado Sr. Repressão, ele é meio fechado, sem graça, não tem samba
no pé nem coração.